Tratar a dependência emocional – que muitas é vezes mais violenta e difícil de manejar do que a dependência química – é essencial para se ver livre do vício.

Quando o assunto é o abuso de substâncias – a exemplo de álcool, maconha, cocaína, LSD, inalantes e diversos tipos de estimulantes, antidepressivos e ansiolíticos, para citar apenas alguns exemplos – são muitos os fatores que podem levar à dependência. Cada adicto tem a sua própria trajetória e os motivos particulares que o levaram a, primeiramente, usar e, em seguida, abusar de determinada substância.

O que costuma se repetir são os danos causados pelo vício, que incluem inúmeros prejuízos à saúde e estragos em praticamente todas as áreas da vida: profissional, social, familiar, afetiva, financeira…

Mas como atua a dependência química?

Em linguagem simples, o que acontece é que a droga provoca um desarranjo do sistema de recompensa do cérebro, responsável por regular nada menos do que o prazer. Todo mundo gosta de sentir prazer, não é mesmo? Pois bem, existe uma área cerebral encarregada especialmente de receber estímulos prazerosos e transmitir para o corpo inteiro a sensação de bem-estar correlata.

Esse sistema é ativado em muitas situações, como quando nos alimentamos bem, quando alcançamos uma temperatura agradável, quando fazemos sexo… Trata-se, portanto, de um mecanismo essencial para a vida e para a preservação da espécie. E é justamente nesse sistema que a droga atua, causando picos de estímulos tão intensos que o ciclo de recompensa fica confuso, fora do eixo.

A dependência química pode ser causada pela dependência emocional, ou seja, todo vício químico pode esconder alguma dificuldade de lidar com as próprias emoções.

Em outras palavras, a droga provoca uma espécie de “curto circuito” que afeta nossa capacidade natural de sentir prazer com aquilo que nos faz bem. Assim, o comportamento de consumir compulsivamente determinada substância nada mais é do que a tentativa desesperada de voltar a sentir prazer como antes.

E, nesse processo, até mesmo o prazer com o uso da droga vai perdendo a força. O dependente se vê impelido a consumir mais e mais, embora nunca esteja realmente satisfeito nem alegre como no início. Onde antes havia prazer, passa a haver apenas uma vida ameaçada e a terrível sensação de se estar numa prisão.

Quando sintomas como esses surgem de forma abrupta, é bem provável que se trate de um ataque de pânico, um tipo particular de resposta ao medo que coloca em evidência sintomas do transtorno de ansiedade generalizado (TAG), mas que não necessariamente está ligado a ele.

O outro lado da moeda: a dependência emocional

Para se libertar do curto circuito da dependência química, ou seja, da necessidade biológica que se criou no organismo com relação à determinada substância, é fundamental olhar para o outro lado dessa moeda: a dependência emocional.

Também chamada de dependência psicológica ou psíquica, em geral é ela que está por trás de toda a engrenagem do vício, o que explica por que algumas pessoas são mais propensas a consumir drogas (sejam ilícitas ou lícitas) do que outras, e também porque algumas se tornam extremamente dependentes enquanto outras podem somente “experimentar” ou fazer uso esporádico.

Podemos dizer que, em geral, a dependência química pode ser causada pela dependência emocional, ou seja, todo vício químico pode esconder alguma dificuldade de lidar com as próprias emoções. E é justamente nesse ponto que atua a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), uma das linhas da psicologia mais efetivas no tratamento de comportamentos compulsivos no geral (há quem seja viciado em compras, em sexo, em jogos… e o mecanismo se dá de forma muito parecida com a do vício em uma droga, apesar da inexistência da dependência química).

Assim, a reestruturação completa do sistema de recompensa atingido pelo curto circuito da compulsão é feita com a ressignificação das causas da dependência, ou seja, com a elaboração de dificuldades emocionais anteriores ao início do vício. Desse modo, ao mesmo tempo em que o paciente tem a oportunidade de reorganizar seu sistema de recompensa atual para poder voltar a sentir prazer de fato a partir de fontes naturais, ele é conduzido por um processo terapêutico no qual enfrenta velhos medos, se reestrutura emocionalmente e, enfim, dá novos sentidos a traumas e problemas emocionais do passado.

É por isso que, muitas vezes, a terapia proporciona benefícios que vão muito além do abandono do vício, promovendo uma maneira mais positiva e saudável de lidar com as emoções como um todo.