Saiba como detectar a diferença entre a ansiedade normal e a ansiedade patológica, e veja como agem alguns dos transtornos de ansiedade mais comuns.

Conhecido por estar relacionado a quadros de esgotamento físico e psicológico, o estresse é hoje um dos principais fatores de diminuição de qualidade de vida em nossa sociedade. Todos sabemos que o chamado “estilo de vida moderno”, com seu extremo senso de urgência e sobrecarga de compromissos, contribui em grande medida para que esse fenômeno se torne cada vez mais frequente. Mas, afinal, o que podemos fazer para nos protegermos contra o estresse?

Bom, que tal começarmos tentando entender, afinal, o que é o estresse? Segundo a psicologia, uma maneira de descrever o estresse é como o processo pelo qual um indivíduo lida com ameaças e desafios ambientais, ou seja, com todos os tipos de “problemas” que surgem ao seu redor. Desse modo, sofrer com o estresse ou “estar estressado” significa se encontrar em uma condição na qual o processo de lidar com os desafios da vida está sendo o responsável pela manifestação de diversas alterações (desequilíbrios) no organismo.

Em outras palavras, o estresse pode ser entendido como o conjunto de respostas comportamentais e fisiológicas a tudo aquilo que faz com que a gente se sinta ameaçado, seja essa ameaça real ou não. Assim, é possível diagnosticar uma condição de adoecimento relacionada ao estresse justamente quando o conjunto dessas respostas se manifesta na forma de disfunções e desequilíbrios.

No campo emocional, o estresse provoca alterações importantes, que podem ser descritas como um misto de depressão e ansiedade, incluindo preocupações constantes, humor deprimido, choro fácil e sentimentos de desesperança.

Conhecido por estar relacionado a quadros de esgotamento físico e psicológico, o estresse é hoje um dos principais fatores de diminuição de qualidade de vida em nossa sociedade.

Quanto aos sintomas físicos, são os mais variados possíveis, podendo haver manifestações visíveis em todo o organismo. Alterações relacionadas à ativação do sistema nervoso simpático são comuns, a exemplo de tensão muscular, aumento da pressão sanguínea e do ritmo respiratório. Isso acontece porque, por qualquer que seja a fonte ou estímulo, o estresse acaba afetando o corpo e ativando um mecanismo chamado de “luta ou fuga”, uma proteção automática do organismo que entra em cena toda vez que sentimos medo.

Pense no seguinte exemplo: um animal feroz surge bem na sua frente, o que você faz? Ora, luta ou foge, dependendo é claro do tamanho e da capacidade ameaçadora do bicho! Seja para lutar ou fugir, você vai precisar estar completamente alerta, razão pela qual o sistema nervoso simpático é ativado e dá logo o aviso imperativo: “Agora não é hora de relaxar!”.

Claro que hoje em dia não costumamos nos deparar com um leão em cada esquina, mas as feras atuais são os problemas do dia a dia, a rotina corrida, a pressão do trabalho, as demandas da casa, da família etc.

E a relação do estresse com o adoecimento fisiológico não para por aí , uma vez que que os processos que fazem parte dessa dinâmica gastam um bocado de energia. E de onde vem essa energia toda? Bem, ela precisa ser “roubada” de algum lugar, e adivinhe de onde? Pois é, do nosso sistema imunológico, que tem como função nos proteger de doenças, combater infecções, inflamações etc. Desse modo, o indivíduo que está sob estresse tem a sua energia desviada e, consequentemente, seu sistema imunológico fica vulnerável.

Assim, não podemos dizer que o estresse torna o indivíduo doente diretamente, no entanto, ele restringe seu funcionamento imunológico e o deixa exposto a invasores externos, abrindo as portas para diversas formas de adoecimento.

Resiliência: a chave para vencer o estresse

Agora que já entendemos os principais mecanismos de funcionamento do estresse e conhecemos algumas de suas manifestações, vamos falar um pouco sobre um conceito essencial para superar essa condição? Trata-se da “resiliência”, uma palavra que tem origem na Física, mas acabou migrando para a Psicologia e ganhou uma enorme importância por aqui.

Em Física, a resiliência indica a capacidade de um material de suportar grande pressão e voltar à sua forma original sem deformações ou alterações permanentes – é uma ideia frequentemente relacionada à elasticidade e à flexibilidade: molas, por exemplo, são objetos extremamente resilientes. Em saúde mental, o conceito de resiliência refere-se à capacidade de superar grandes obstáculos sem desenvolver prejuízos psicológicos significativos.

Possuir resiliência é essencial para lidar com o estresse, já que “grandes obstáculos” são inevitáveis e surgem de tempos em tempos na vida de todos nós. É natural que tenhamos momentos difíceis e condições que nos exigem mais energia do que o habitual, por isso mesmo é fundamental ter sabedoria o suficiente poder se adaptar às mudanças, aceitar perdas e frustrações… enfim, encarar da melhor forma possível todos os tipos de problemas do cotidiano que parecem querer sugar todas as nossas forças.

Se tivermos a resiliência como uma característica desenvolvida e aperfeiçoada ao longo da vida, as chances de enfrentarmos tais desafios com a o máximo de inteligência e flexibilidade possível são grandes (por mais que o momento seja difícil!). Pessoas resilientes são naturalmente otimistas, possuem uma visão mais positiva do mundo e, ainda por cima, contam com a autoestima elevada. Assim fica bem mais fácil – e até natural – manter o estresse sob controle e, consequentemente, a saúde equilibrada como um todo.

E você, como anda seu nível de resiliência? Você tem se sentido tranquilo e aberto para enfrentar os desafios da vida ou se sente mais como uma panela de pressão prestes a explodir? No processo terapêutico com a Terapia Cognitivo Comportamental, é possível analisar essa característica e ajudar a desenvolvê-la para obter melhor qualidade de vida e conquistar as ferramentas necessárias para conseguir superar as adversidades do dia a dia com mais facilidade. Afinal, nós não podemos mudar as características estressantes do mundo moderno, mas podemos mudar o modo como nos relacionamos com elas, não é mesmo?

E quando o estresse vem de um grande trauma?

Vale ressaltar que, em algumas situações, o estresse se manifesta após a vivência de uma experiência traumática severa, como passar por um acidente grave, escapar da morte por pouco, sofrer violência, abuso, assalto, sequestro, tortura física ou psicológica, estar presente em uma guerra ou catástrofe natural etc.

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, no livro Mentes Ansiosas: medo e ansiedade além do limite (Editora Objetiva, 2011), os indivíduos que sofrem transtornos relacionados a eventos estressores “são capazes não somente de recordar as imagens do ocorrido, como também reviver e remoer, de forma intensa, persistente e sofrível, toda a dor que os abateu. É o flashback do tormento”.

Muitas vezes, tais episódios de angustiantes recordações ocorrem no período de um mês após o evento traumático e cedem ainda dentro daquele mês, tal distúrbio recebe o nome de Transtorno do Estresse Agudo (TEA). Se os sintomas persistirem por mais de um mês, no entanto, o diagnóstico passa a ser de Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Nesses casos, o processo terapêutico surge como um caminho possível para que a experiência traumática possa ser elaborada. Em outras palavras, a ideia é oferecer a possibilidade de que a ferida que ficou aberta seja, enfim, cicatrizada.